Na Cabeceira Cap. 18 | Pulando páginas
- Bio Cult Cultivando a vida
- 28 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Há alguns anos, uma amiga emprestou um livro para mim. Já de início, adorei a capa, com um nome delicado e uma chamada forte: "Nós, mulheres, fazemos escolhas pelos outros, não por nós mesmas. E quando somos mães, nós suportamos o que for preciso por nossos filhos.”
Sempre tive vontade de ler sobre as guerras mundiais no contexto de outros países, então busco por autores do próprio país, mas ainda não encontrei o livro ideal. Acredito que o que somos é o resultado do que vivemos e isso também se aplica à humanidade: a construção das sociedades é resultado das pessoas que a compõem, com suas paixões, medos, sonhos, realizações e traumas. Nós percebemos as diferenças entre sociedades se buscarmos conhecer sua história, e, não tenho dúvidas, que sempre haverá espaço para aprender com isso, encontrar pontos convergentes que fortaleçam os laços da espécie humana.
Nesta busca “apareceu” o Jardim de Inverno. Kristin Hannah é uma autora americana, escreveu vários best sellers, como O Rouxinol e A Grande Solidão.
A história viaja no tempo e espaço, relembrando o passado da guerra em Leningrado, voltando ao presente no Alasca, percorrendo 60 anos de segredos, tragédias e descobertas.
É, sem dúvida, uma leitura envolvente, muito bem trabalhada, bem contextualizada e profunda. Meu objetivo não é dar muitos spoilers do conteúdo, afinal a ideia é instigar a leitura e deixar o leitor ter suas próprias impressões do livro, (adoro receber os comentários de vocês).
Agora, entrando no tema deste texto “pulando páginas”, — sim, mesmo após tecer vários elogios ao livro, eu pulei páginas — eu já sabia o que de fato iria acontecer naquele trecho, mas não queria os detalhes, o desespero, a profunda tristeza. Eu não consegui ler as palavras, pois depois de lidas uma vez, elas ficariam gravadas, virariam imagens. Naquele momento eu não estava preparada para lidar com isso. É preciso coragem para ler livros, entrar nas histórias, nas entranhas do enredo e do autor. É preciso coragem para compreender o quanto aquela leitura lhe impacta e que sentimentos desperta. Devo dizer que é um exercício de empatia. “Você ficaria surpreso com o que o coração humano pode suportar”. É uma história tocante, tanto pelo fato de ter acontecido coisas terríveis durante os períodos de guerra quanto pela forma que a autora aborda a relação familiar, trazendo uma mãe fria e distante, duas irmãs totalmente diferentes uma da outra e um pai bondoso e amoroso. Quando, é explicada a história que esta mãe conta, fica claro o porquê daquele comportamento.
O livro nos faz pensar sobre quantas vezes nós julgamos o que o outro aparenta no momento, sem entender pelo que passou, como chegou até ali, quais foram as pedras e buracos no caminho. Já ouviu a expressão “calçar o sapato do outro”? A vida é uma jornada individual (com todas suas interações), por exemplo, as duas irmãs do livro tiveram os mesmos pais, calçaram os mesmos calçados, mas tiveram experiências diferentes ao passar pelos mesmos desafios.
Eu sei que um dia vou precisar ler novamente este livro e aquelas páginas puladas estarão lá. Ficarei com raiva daquela mãe, sentirei compaixão por ela, chorarei e, novamente, aprenderei mais.
Podemos pular páginas de um livro, no meu caso, por serem triste de mais, ou por serem muito chatas (já fiz também), mas não podemos pular páginas da nossa vida. Cada dia deve ser vivido e compreendido, deve ser sentido. Isso sim é desafiador e exige muita coragem.
Ler sagas, histórias de família e biografias nos ajuda a compreender que vamos passar por muitas coisas na vida, mas “você ficaria surpreso com o que o coração humano pode suportar”.
Sugestão de leitura
Kristin Hanna é uma autora famosa, bem colocada nas melhores listas de livros, mas vou indicar aqui mais uma obra. O primeiro romance de Mary Lynn Bracht, Herdeiras do Mar contextualiza a Segunda Guerra vivenciada por duas adolescentes na Coreia. Só vou dizer: leia!
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